"No gigante Alentejo já se fazia vinho antes de os romanos ali terem passado. A região que hoje conhecemos e o actual perfil dos vinhos alentejanos começou a ser desenhado com as adegas cooperativas nos anos 1950 e o salto para a qualidade começou a ser construído uns 20 anos depois, a partir da visão desinquietante, disruptiva e apaixonada de Francisco António Colaço do Rosário, o arquitecto do Pêra Manca, e dos que o rodearam e lhe seguiram as pisadas. Na última década, à preocupação com a qualidade este território vitivinícola acrescentou uma visão de e com futuro, com o pioneiro Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo.
Os vinhos brancos alentejanos com a designação de Denominação de Origem Controlada (DOC) são, na sua maioria, suaves, com acidez ligeira e aromas onde se salientam os frutos tropicais, papaia e meloa muitas vezes. Os tintos são, regra geral, encorpados, ricos em taninos e exalam aromas a frutos vermelhos, notas vegetais (engaço), bosque, cogumelos ou eucalipto.
Para além dos vinhos DOC, existe também uma grande produção com Indicação Geográfica Alentejano (IG Alentejano), designação de vinhos da região feitos com uvas de vinhas situadas fora das oito sub-regiões demarcadas, ou dentro destas, mas utilizando uvas não constantes nas listas de castas recomendadas ou autorizadas para vinhos DOC. Esta diferença nada tem que ver com a qualidade dos vinhos, já que quer entre os DOC quer entre os Regionais existem néctares de altíssimo gabarito.
O Alentejo é a região que mais fez pela pedagogia dos consumidores, visto que, por um lado, soube explorar como ninguém o conceito de vinho monovarietal (apesar de não descurar a virtude e história do vinho de lote) e, por outro, soube sempre aproveitar a riqueza dos seus inúmeros terroirs. Hoje, qualquer consumidor esclarecido sabe que uma coisa é um vinho da Vidigueira e outra bem diferente é um vinho de Portalegre, de Borba ou, já agora, um vinho de talha.
De resto, e ao contrário do que muita gente do sector pensava, o vinho de talha – aquele que é devidamente certificado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana – adquiriu uma notoriedade impressionante nos últimos anos. Muitas adegas estavam abandonadas foram recuperadas por filhos e netos e, hoje, as festas dedicadas ao vinho de talha ocorrem um pouco por todo o Alentejo, com destaque, naturalmente, para os lados de Vidigueira, Cuba, Alvito e até Cabeção.
Do ponto de vista tecnológico, não há cá grandes alterações na produção deste tipo de vinho (eventualmente um maior rigor com a higiene nas adegas), mas como a qualidade das uvas de hoje não se compara com a de realidades passadas, os vinhos de talha até envelhecem muito bem. O problema é que a procura é tal que há adegas que em Fevereiro já não têm vinho da colheita mais recente para vender. É um bom problema.
Sabia que…
…apesar de actualmente se produzirem vinhos de talha noutras regiões de Portugal, foi no Alentejo – essencialmente na sub-região da Vidigueira – que essa tradição romana, com mais de dois mil anos, foi preservada?
Os genuínos vinhos de talha são, ainda hoje, feitos em grandes potes de barro revestidos com uma mistura chamada pez, que leva resina de pinheiro e mel. As uvas são colocadas inteiras com cardaço nessas talhas e depois pisadas com um maço. Em 2022, nasceu a Rota de Vinho de Talha, que envolve mais de uma vintena de concelhos alentejanos. E na região há vários eventos dedicados à talha por alturas do São Martinho. Já diz o provérbio popular: “No Dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho.
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Sabia que…
…apesar de actualmente se produzirem vinhos de talha noutras regiões de Portugal, foi no Alentejo – essencialmente na sub-região da Vidigueira – que essa tradição romana, com mais de dois mil anos, foi preservada?
Os genuínos vinhos de talha são, ainda hoje, feitos em grandes potes de barro revestidos com uma mistura chamada pez, que leva resina de pinheiro e mel. As uvas são colocadas inteiras com cardaço nessas talhas e depois pisadas com um maço. Em 2022, nasceu a Rota de Vinho de Talha, que envolve mais de uma vintena de concelhos alentejanos. E na região há vários eventos dedicados à talha por alturas do São Martinho. Já diz o provérbio popular: “No Dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho."
https://www.publico.pt/2023/07/21/infografia/nao-ha-canto-portugal-onde-nao-faca-vinho-778